A existência de políticas públicas para as mulheres e mesmo a aparição de mulheres na política faz com que tenhamos uma impressão de que as conquistas reivindicadas pelo movimento feminista foram atendidas. Paradoxalmente, no entanto, quanto mais algumas mulheres abrem caminhos na política, por exemplo, um número significativo de mulheres vive em situação de pobreza, violência e discriminação inimagináveis. Para falar destas mulheres inúmeras intelectuais, ativistas foram convidadas para escrever O livro negro da condição das mulheres, dirigido por Christine Ockerent e coordenado por Sandrine Treiner e publicado este ano no Brasil, pela Difel. O documento exaustivo, de mais de 800 páginas vem a público para provar que a situação da maioria das mulheres do mundo é lamentável e, em alguns países, longe de ser resolvida. Dividido em cinco partes denominadas "Segurança", "Integridade", "Liberdade", "Dignidade" e "Igualdade" este documento é de fundamental importância para entendermos como vivem as mulheres no mundo atual e sobre o trabalho de milhares de ativistas de direitos humanos e feministas que lutam pela igualdade das mulheres.
(...) No início deste Terceiro Milênio, mulheres ainda têm sua vida ameaçada pelo fato de serem mulheres. O primeiro dos direitos fundamentais começa, então, pelo direito de viver, sem discriminação ligada ao sexo. Na Ásia, a vida de uma menina vale menos que a de seu irmão: elas são impedidas de vir ao mundo, deixam-nas morrer por falta de cuidados ou de uma alimentação apropriada. Em certos países em guerra, reduzidas à sua função reprodutora, são assassinadas ou estupradas para atentar contra a sobrevida da coletividade. Em nome de uma concepção arcaica da honra dos homens, nos países muçulmanos em que o islã mais severo está no poder, mulheres são assassinadas, queimadas ou apedrejadas; o mesmo ocorre no seio das comunidades muçulmanas do mundo ocidental. Na América Central, os assassinatos de mulheres se tornaram tão frequentes que justificaram a invenção de uma palavra nova: o feminicídio. Elas são as primeiras vítimas de sociedades devastadas pela guerra, pela pobreza e pela corrupção.
OCKERENT, Christine & TREINER, Sandrine. O Livro Negro da Condição das Mulheres. Rio de Janeiro; Difel, 2011.
Lélia Almeida é escritora
e escreve sobre as mulheres.
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